quinta-feira, 22 de março de 2012

Como você define o tantrismo?

Deva Nishok - Em se tratando de Tantra, essa expressão é uma corruptela. Não se pode estudar Tantra, não se pode pesquisar Tantra, o Tantra não tem via de acesso pelos instrumentos de análise e de racionalização. Ele é sensorial e só pode ser percebido pelo praticante. O Tantra não permite auto-conhecimento, ele atua nas cognições. O Tantra é individual, cada ser humano tem o seu Tantra, as suas tramas, os seus códigos de comportamento, modelados e influenciados pela forma como se desenvolveu. A psicologia não consegue compreender esse mecanismo, o processo de desenvolvimento está livre e dissociado do conhecimento, ele é independente na capacidade de evolucionar a espécie.

O problema das tradições é exatamente o de abordar o ser humano como gado, como rebanho, achando que a mesma premissa é válida para todos; não é.

Tantra é proprioceptivo, ele trata do desenvolvimento da própria percepção - o termo proprioceptivo se aplica com muita exatidão para o Tantra, é o objetivo de suas meditações, tornar o homem perceptivo de si mesmo.

O Tantra é sensorial porque usa os sentidos, e desrepressor, porque a mente lógica não o reprime, não tem condições de o reprimir. Só quem já experimentou as meditações tântricas é capaz de compreender esse complexo mecanismo que anula os efeitos do tempo e do espaço, desprograma as memórias condicionadas no corpo. É difícil explicar o processo, o Tantra é não verbal, lembra?


A expressão "Tantrismo” foi cunhada por vertentes filosóficas. Esses filósofos admitem que o Tantra veio da Índia - Mentira, na época do Tantra a Índia nem existia ainda, o local onde o Tantra eferveceu na experiência humana corresponde histórica e geograficamente ao Paquistão. A tradição tântrica (a visão matriarcal, do feminino, de não determinar decretos escritos) determinava que os ensinamentos eram passados de forma verbal; não existem manuscritos oficiais sobre o Tantra. Textos muito recentes foram encontrados (depois de 500DC) mas já corrompidos, que deram origem a filosofias como o Samkhya, numa mistureba incompreensível com o Vedanta que só atendem aos interesses de mentes patriarcais, machistas, que nada sabem da visão do feminino, que reforçam o dualismo vigente, que criaram toda a idéia de deuses guerreiros, tirânicos, violentos, constituídos segundo a sua própria imagem e semelhança.

Sim, o Tantra possui uma contraparte inventarista, é verdade, mas nada parecido com as doutrinas do karma e do Dharma Artesanal. Se o Tantra é presente, o aqui e agora, tal qual a vida, como pode ocupar-se das ações do passado? como pode ocupar-se das ações do futuro? Como pode aceitar o julgamento? é o oposto, o Tantra é o não julgamento, é a desconstrução do julgamento. Só uma entidade feminina é capaz de perceber isso. A mulher dá o ventre à vida, ela está em conexão permanente com a fonte geradora da vida. Para o homem, é difícil entender algo fora da razão. Como pode haver perdão para o Tantra, se não há condenação, não há dualidades? As distinções entre céu e inferno, bem e mal, certo ou errado, sombra ou luz pertencem aos aspectos dualistas das doutrinas falsamente moralistas. Nada pode ser dito sobre o Tantra, ele é pura percepção. Percepção do Amor que se derrama sobre todas as criaturas. O sol se derrama sobre escravos ou senhores, ricos ou pobres, sobre a relva ou sobre a pradaria, ele penetra nos vales da mesma forma que nos picos montanhosos, reis e mendigos são abençoados pela manifestação da vida. As filosofias criam distinções, quanto mais sábio, quanto mais erudito, quanto mais conhecedor, o homem se distancia das verdades simples que um camponês é capaz de reconhecer no nascente ou no poente, ao ver a manifestação do sol e da bruma.


O Tantra está na alma de todos, está no coração.

O Tantra está além das escrituras, não pode ser contido em volumes guardados nas estantes; ele é a biblioteca viva que compõe todo o tabernáculo cósmico universal, todos os registros de Akasha, que guardam os segredos da vida nas infinitas dimensões que nossa imaginação sequer ousa imaginar. E ele só pode ser acessado com a pureza e com a simplicidade do coração.

Deva Nishok

Nenhum comentário:

Postar um comentário